terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Crescem investimentos para proteger a água



Foto: Divulgação

Manaus, AM – O número de iniciativas para a proteção e restauração de ecossistemas ricos em água dobrou no mundo inteiro, em um intervalo de apenas quatro anos, de acordo com um estudo divulgado pelo projeto Ecosystem Marketplace, da Forest Trends, uma organização não governamental que busca valorizar as florestas e incentivar o pagamento por serviços ambientais.

De acordo com o relatório State of Watershed Payments 2012 (Estado dos Investimentos nas Bacias Hidrográficas), o número de projetos em todo o mundo que remuneram indivíduos ou comunidades que protegem ou recuperam florestas, zonas úmidas e outras paisagens importantes para os recursos hídricos aumentaram de 103, em 2008, para 205, em 2011. Durante este período, conforme o relatório, os investimentos aumentaram U$ 2 bilhões e chegaram a U$ 8,17 bilhões por ano, o equivalente R$ 16 bilhões.

Este crescimento se deve, segundo o estudo, à percepção de governos de que investir na preservação e recuperação de mananciais é uma forma mais barata e eficiente de garantir o suprimento de água do que gastar na construção de infraestrutura para captação e tratamento.

“Oitenta por cento do mundo está agora em face a significantes ameaças à segurança da água. Nós somos testemunhas dos estágios iniciais de uma resposta global que pode transformar a maneira que nós valorizamos e gerenciamos recursos hídricos do mundo”, afirma o presidente e CEO da Forest Trends, Michael Jenkins.

O relatório cita seis iniciativas brasileiras. Quatro delas já são atividades nos estados de São Paulo e Paraná e outra estava prevista para ser implementada em Santa Catarina. A sexta iniciativa é o programa Produtor de Água, da Agência Nacional das Águas (ANA), que incentiva o pagamento por serviços ambientais a projetos na área rural que contribuam para a manutenção do suprimento ou a qualidade da água.


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Na liderança dos investimentos está a China, com mais de 90% de todos os gastos. O país tem a pior relação per capita de água doce entre as nações mais importantes do mundo, de acordo com o Banco Mundial. A escassez e a poluição da água custam ao governo chinês 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB). “Insegurança com a água representa provavelmente o maior risco isolado para o crescimento contínuo da economia do país hoje. E o governo claramente decidiu que este investimento ecológico será pago”, afirma o relatório.

Por lá, o governo está oferecendo benefícios para a saúde de 108 mil moradores de comunidades próximas à cidade costeira de Zhuhai, para incentivá-los a adotar práticas que ajudem a aumentar a quantidade de água potável na região.

O relatório cita outros exemplos bem sucedidos de proteção aos mananciais, com na cidade de Nova Iorque. Diante da perspectiva de gastar bilhões de dólares em nova uma infraestrutura para o tratamento de água, a administração municipal optou por um programa muito mais barato de compensação a fazendeiros de Catskills para a redução da poluição de lagos e rios que fornecem água à cidade. O esforço recebeu crédito por ter abastecido as torneiras da cidade durante o furacão Sandy, já que os sistemas naturais não foram afetados pela falta de energia elétrica.

Iniciativa privada decepciona

Mas os autores do relatório estão decepcionados com a participação da iniciativa privada nas ações. Apenas 53 programas que incluem a participação de empresas privadas, na maioria que envolvem empresas de bebidas, foram identificadas. A maioria dos programas monitorados são operados por governos ou organizações não governamentais.

A razão, apontada por eles, é que o mercado de serviços ambientais ainda não se estabeleceu, diferente do que ocorre com os créditos de carbono. Mas, de acordo com o texto apresentado, já há condições para que o pagamento por esses serviços ganhe força, principalmente depois de encerrada a atual fase de incertezas na economia mundial.

De acordo com o relatório, 700 milhões de pessoas enfrentam problemas de escassez de água em 40 países ao redor do mundo. Além disso, um terço da carteira de empréstimos do Banco Mundial é destinada a projetos relacionados à água. Apesar de estarem crescendo rápido, os investimentos para manter o suprimento de água ainda são pequenos.


Investir na proteção de ecossistemas que favorecem a água, segundo o relatório, do que investir em infraestrutura para a captação e purificação. Foto: Divulgação

Até 2025, vão ser necessários U$ 1 trilhão por ano para atender as necessidades globais de abastecimento de água e demandas de saneamento. Analistas do Ecosystems Marketplace destacam que dedicar uma pequena parcela deste dinheiro em soluções verdes poderia proporcionar segurança em relação à água e, ao mesmo tempo, benefícios sociais e ambientais, já que os ecossistemas preservados ajudam a manter a biodiversidade e a reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Além disso, o pagamento pelos serviços ambientais pode de ser uma alternativa de geração de renda para populações rurais pobres. “Os benefícios desses programas de bacias hidrográficas vão muito além da água: apoiam a biodiversidade, reduzem a emissão de gases de efeito estufa e proporcionam renda para a população rural pobre”, diz Genevieve Bennett, autora líder do relatório e analista de pesquisas do Ecosystems Marketplace.

Inventário


Programas que incentivam a proteção dos mananciais ajudam a manter a biodiversidade e são também uma opção para gerar renda. Clique para ampliar.

O inventário apresentado traz uma série de abordagens consideradas pelos autores como criativas e inovadoras, que estão ajudando a enfrentar o desafio da água em todo o mundo. Entre elas, alguns foram destacados:

- Na África do Sul, estão sendo investidos U$ 109 milhões de dólares para acabar com plantas exóticas que consomem muita água, como o eucalipto. A iniciativa oferece emprego a 30 mil pessoas que antes não tinham onde trabalhar.

- Um governo local na Suécia descobriu que é mais barato criar bancos de mexilhões azuis para filtrar a poluição por nitrato da água do que construir um novo sistema de tratamento na costa.

- Na América Latina, a tendência é oferecer benefícios não monetários para proteger os recursos hídricos. No Vale de Santa Cruz, na Bolívia, mais de 500 famílias recebem colmeias de abelhas, mudas de árvores frutíferas e arame para manter o gado longe dos rios e lago, em troca da proteção às águas.

- Para compensar a falta de uma boa fonte de água potável dentro de seus limites, a cidade japonesa de Fukuoka apoia um fundo para o gerenciamento de florestas e aquisição de terras em uma bacia hidrográfica próxima, que abastece a cidade.

- Em Uganda, uma cervejaria está pagando pela proteção de zonas úmidas para garantir o fornecimento de água. A subsidiária da empresa na Zâmbia está implantando um projeto semelhante.

- No Quênia, um consórcio formado por horticultores, fazendeiros e donos de hotéis fornece vales para pequenos agricultores, que podem trocá-los por insumos agrícolas. A intenção é aumentar a produtividade e reduzir os dados ao meio ambiente.

Fonte: ((o))eco
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