quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Poupe o planeta e seu bolso

Economia e preservação ambiental caminham juntas. Um levantamento recente do Instituto Akatu, organização não governamental que promove o consumo consciente, mostrou inclusive que esses dois argumentos, combinados, podem aumentar a aceitação de práticas sustentáveis por jovens brasileiros. Na pesquisa, eles exibem disposição para fazer compostagem (transformar lixo orgânico em fertilizante) e usar a bicicleta como transporte. Para tanto, além da questão ecológica, pesou a percepção de que esses jovens de 18 a 35 anos poupariam ao adotar tais práticas. Confira, agora, três histórias de pessoas que já fazem do meio ambiente um aliado e que podem servir de referência para a nova geração.

PEDALA, POLUIÇÃO
Hugo Penteado, 47 anos, economista-chefe da área de gestão de recursos do banco Santander, costuma aplicar, na prática, o que prega na teoria, em palestras sobre economia ecológica e sustentabilidade nas empresas. Todos os dias, ele atravessa São Paulo para ir de casa ao trabalho pilotando uma bicicleta. Leva meia hora para ir, meia hora para voltar, em um percurso total de cerca de 15 quilômetros. "Nada me detém, nem a chuva", diz.

O executivo optou pelas pedaladas há pouco menos de três anos, quando a empresa mudou de endereço. Antes, como morava perto do trabalho, ia a pé. Hugo tentou ônibus, porém lhe custava tempo, cerca de duas horas diárias. Testou a bicicleta e desde então se tornou um defensor da magrela como alternativa eficiente ao trânsito caótico da capital paulista.

"Não vejo praticidade alguma em ficar dentro de um carro parado no congestionamento", afirma Hugo, que é, afinal, proprietário de um veículo novo - uma perua Mégane comprada à vista em maio deste ano. O economista conta que precisava de um automóvel maior para carregar a família nas viagens que de vez em quando faz. O Vectra 2006 que tinha antes na garagem, adquirido de segunda mão, já estava pequeno e com problemas. Na hora de escolher o novo modelo, optou por um que gastasse menos combustível por quilômetro rodado. "Descartei as SUVs. Não passaram no teste."

Mesmo de posse de um carro zero, Hugo usa pouco o veículo. Quando não viaja nos fins de semana, tenta fazer seus programas a pé pela cidade. Por enquanto, o carro tem 3 500 quilômetros rodados. Pelos cálulos de Hugo, deverão ser rodados 7 000 quilômetros por ano. O objetivo é permanecer com o Mégane por pelo menos uma década. Além de contribuir para o futuro da Terra, ele ajuda a preservar o próprio futuro - cujas reservas estão investidas em um fundo de pensão e em um plano de previdência privada.

"Quando vão comprar um carro, muitas pessoas se esquecem do custo que é mantê-lo", ressalta. Ao usar menos o carro, Hugo está reduzindo os gastos com combustível e estacionamento. Conferindo vida útil mais longa ao veículo, deixa de perder tanto dinheiro com a desvalorização de mercado, e até os custos com seguro e impostos diminuem.

Bom para o bolso e para o meio ambiente. "Entramos em uma guerra com o planeta da qual não sairemos vencedores", alerta Hugo. O esforço em minimizar os impactos que seus hábitos de vida podem causar ao meio ambiente é constante. Vegetariano há 12 anos, ele evita andar de avião e dá mais valor a gastos com serviço do que com a compra de bens de valor.

"É um desafio grande viver em um sistema que empurra tantas coisas." Mas a disciplina ajuda a controlar os impulsos. Neste Natal, o combinado é não haver troca de presente. No dia a dia, a dedicação permanece. A meta de Hugo, agora, é conseguir ir ao aeroporto de bicicleta quando fizer uma viagem a trabalho. "É tempo de fazer, não de discutir."

COMO NOSSOS AVÓS
Em um dos metros quadrados mais caros de Curitiba, três famílias levaram a cabo um projeto de sustentabilidade que se traduz em verdadeiro projeto de vida.
Mudaram-se, há dois anos, para um condomínio fechado e lá alugaram um terreno onde cultivam e criam a maior parte dos alimentos que consomem. Um "bando de pós-graduados" que, cansados de passar metade do dia fora de casa, ousaram "viver com mais qualidade", é o que diz o dentista Claudio Oliver, de 50 anos, hoje professor.

Todos do grupo tiveram de reduzir a carga horária de suas atividades profissionais para se dedicar ao projeto, batizado de Casa da Videira. O novo estilo de vida exige atuação em comunidade. Todas as tarefas são divididas. "Não acreditamos em autossuficiência, mas em codependência", ressalta Claudio, responsável pelo abate dos animais. No "quintal" de 300 m² são criados 4 cabras, 25 galinhas, 30 coelhos e 12 porquinhos-da-índia (cortadores de grama). "No fundo, não fazemos nada diferente de nossos avós."

Embora dinheiro esteja longe de ser um objetivo da Casa da Videira, a iniciativa começa a render frutos financeiros. Surge, por exemplo, uma pequena produção de sabonete de leite de cabra. A primeira leva do produto com a marca Quinta da Videira (ligeira diferença em relação ao nome do projeto) saiu em outubro. São fabricadas 15 barras de sabonete diariamente, a partir dos cinco litros de leite produzidos. Elas levam, em média, um mês para ficarem prontas. Cada barra é vendida a 7 reais. "Se fosse vender só o leite e dependesse desse recurso para viver, provavelmente morreria de fome. O que estou fazendo é agregar valor."

Claudio trabalha, hoje, no desenvolvimento de outros dois produtos à base de leite de cabra: um creme de barbear e um xampu sólido. Mas ele tem claros os limites que pretende dar à empreitada, e ganho de escala é um deles. A ideia é que a produção se mantenha artesanal e as vendas sejam feitas localmente, para conhecidos. "Se rompo esse limite, me torno escravo", afirma. "Diferentemente do que é pregado no mundo corporativo, não estamos aqui para quebrar limites, e sim respeitá-los."

VIABILIDADE ECONÔMICA
Além da produção de sabonetes, uma feira orgânica foi criada para pôr à venda hortaliças, verduras e adubo, entre outros excedentes da Casa da Videira. "No primeiro ano do experimento havia aquela dúvida: será que os recursos são suficientes? Será que vai dar certo?", lembra. "O segundo ano foi de manejamento e, agora que entramos no terceiro ano, vamos tentar responder se o projeto é economicamente viável", diz Claudio, que está dando palestras mundo afora sobre o "quintal" e esteve recentemente no TEDx, evento para disseminar novas ideias, em Santa Catarina.

Já as finanças pessoais não precisam de teste. Exibem plena saúde. Apesar de a renda de Claudio ter diminuído cerca de 30% em relação ao que ganhava antes da criação da Casa da Videira, o orçamento foi beneficiado pela violenta redução de despesas experimentada nos últimos anos. "Não como fora de casa, não tenho celular e não devo nada ao banco", resume Claudio. Só de celular, TV a cabo (a família não tem televisor há quatro anos) e supermercado, as economias somam, por baixo, 1 000 reais por mês. O novo estilo de vida permitiu também que a família deixasse de ter dois carros para ficar só com um. As economias estão aplicadas em um fundo de renda fixa e todos têm plano de saúde.

Mas o maior benefício trazido pela experiência de vida em comunidade tem sido mesmo o ganho de qualidade de vida. No menu de almoço de uma segunda-feira, por exemplo, havia à mesa risoto de quinoa com brócolis, parmesão e lascas de presunto ao vinho branco. "Não como nugget", compara. "Já que isso não pode ser colocado na ponta do lápis, a conta fica incompleta."
CASA COM SELO VERDE
Economia de 20% a 30% nas despesas com condomínio e potencial de valorização do imóvel até 20% superior em relação a uma residência convencional. Interessado? Pois essas são algumas das vantagens apresentadas pelas casas sustentáveis, um tipo de construção ainda pouco usual no Brasil. Mas, a depender de entusiastas como o engenheiro ambiental Roberto Mourão, 60 anos, esse é um mercado que tem tudo para evoluir.

Roberto, que preside o Instituto Eco Brasil, está à frente, no momento, do projeto de um condomínio sustentável em Paraty, Rio de Janeiro, do qual também será morador, ao lado de outras 11 famílias. No terreno de 20 000 m², 60% da área permaneceu intocada. A mata é reserva de manancial. "A tentativa de minimizar os impactos começa na implementação", ensina Roberto.

Toda a concepção do condomínio parte do melhor aproveitamento dos recursos naturais. "Teremos ventilação cruzada entre duas janelas, o que dispensará o uso de ar condicionado", diz o engenheiro. Além de utilizar uma boa orientação de vento e luz para as casas, esses elementos também poderão ser aproveitados na geração de energia. Biodigestores produzirão gás a partir do lixo orgânico.

Tudo isso contribuirá para a economia de gastos dos moradores - além da preservação do meio ambiente. De acordo com um estudo do Conselho Mundial de Negócios para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, sigla em inglês), as edificações respondem, em todo o mundo, por 40% das emissões de gases do efeito estufa.

BEIRAL E CALHA
O condomínio sustentável que está sendo construído em Paraty será bem semelhante, na realidade, às casas rurais "de antigamente", segundo Roberto. A varanda, por exemplo, terá beiral para fazer sombra. O telhado contará com uma calha que escoará a água da chuva para uma cisterna. Essa água será depois reaproveitada para a rega dos jardins e a rede sanitária. "As casas de fazenda eram assim, não havia essa perda que existe hoje", observa. "Foram práticas que se perderam no meio do caminho com a modernidade."

O resgate, porém, vem acompanhado por outros requisitos ecológicos exigidos pelos padrões atuais de sustentabilidade. É por isso que o uso de madeiras certificadas e equipamentos como painéis solares encarecem ligeiramente a construção de uma moradia sustentável em relação à convencional, um custo entre 5% e 7% superior. "Mas isso se paga em pouco tempo", ressalta Roberto. Além da economia de energia e água, casas "verdes" também tendem a ser valorizadas no mercado. Nos Estados Unidos, uma construção que possua certificação atestando sua sustentabilidade (Green Building) chega a valer até 20% mais que uma tradicional.

Enquanto a construção do condomínio sustentável está em andamento - a previsão é de que ele fique pronto na metade de 2013 -, Roberto vive "às escuras" em um apartamento no bairro de Ipanema, Rio de Janeiro. "Não tem luz no teto, é só iluminação indireta, de abajur", diz Roberto, que também recicla seu lixo.

Por dever do ofício, o engenheiro possui um carro com tração nas quatro rodas. Mas escolheu um modelo compacto (Suzuki Jimny). "Pesa 500 quilos a menos que um 4x4 normal e, por isso, tem um gasto energético menor", destaca. Ele tem o carro há três anos e pretende mantê-lo por mais uns sete. O anterior, um Twingo, permaneceu com Roberto por 11 anos. "Esse fazia 16, 17 quilômetros por litro de combustível. Devo ter economizado muito com ele", diz. Economizou, sim. Supondo que o engenheiro gaste um tanque de gasolina por mês, ele conseguiu poupar, ao longo de 11 anos, aproximadamente 9 500 reais em relação a um carro que faz, em média, 10 quilômetros por litro de combustível.
Fonte: Planeta Sustentável 
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